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  • terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

    Análise da versão brasileira do Mandriva Flash

    Recebi há 2 semanas um exemplar da versão nacional do Mandriva Flash, enviada pela Mandriva Conectiva para análise pelo BR-Linux, e posterior sorteio entre os leitores do site (o resultado do sorteio será divulgado na noite desta segunda-feira 26).

    O Mandriva Flash foi lançado no final do ano passado e é basicamente o Mandriva Linux pré-instalado em um pen drive USB de 2GB, de forma que você pode (em condições ideais) simplesmente plugar o Mandriva Flash em uma porta USB de um computador, reiniciar o computador dando boot pela porta USB e usar o Linux normalmente, sem instalar nada no disco rígido do micro e gravando no próprio Mandriva Flash (que vem com cerca de 1GB livres) os seus arquivos, preferências e configurações.

    Como ele tem boa qualidade em suas rotinas de reconhecimento de hardware durante o boot, você pode - ao menos teoricamente - "pular" de micro em micro tendo acesso sempre ao mesmo sistema, ambiente e dados, todos carregados a partir do próprio Mandriva Flash.

    Mas as condições ideais não estão sempre presentes. Para começar, muitos micros não têm suporte a boot diretamente pelas portas USB, e mesmo os que dispõem deste recurso freqüentemente exigem alterações na configuração da BIOS - algo que você nem sempre tem permissão para fazer em computadores alheios. Uma solução alternativa é usar a pequena imagem ISO de um CD de boot, que vem gravada no próprio Mandriva Flash, para gerar um CD de boot capaz de iniciar o Mandriva Flash até mesmo em máquinas sem nenhum suporte a boot via USB. E se você pretende mesmo pular de micro em micro, já vá treinando sua lábia para convencer o operador da biblioteca, do cyber café ou da rede universitária que ele não precisa se preocupar com os seus reboots, e pode liberar os boots via CD e USB no micro que você pretende usar.

    Mesmo com todos os desafios, o Mandriva Flash tem seu nicho e sua utilidade. Veja abaixo a análise completa.

    Boot e inicialização

    Onde as condições ideais estão presentes, entretanto, a inicialização do sistema funciona bem. Testei em um 2 notebooks (um Thinkpad T60 e um HP Pavilion DV4000) com sucesso completo, e em uma estação de trabalho HP que exigiu a inserção do CD de boot, apesar de sua BIOS dispor da opção de boot via USB. Nos 3 casos, só foi possível dar boot após remover outros periféricos USB (mouse, teclado, drive externo). Após o boot eles puderam ser usados sem problemas.

    No primeiro boot o sistema faz uma série de questionamentos: idioma do ambiente, fuso horário, tipo de teclado. se deve conectar em rede, nome do usuário para o qual se deve criar uma conta (obrigatória), senha para o root, etc. Estas perguntas, cujas respostas não podem ser obtidas automaticamente, ocorrem apenas na primeira inicialização, e alterações posteriores já podem ser feitas diretamente pelo centro de controle da Mandriva, no ambiente instalado. Testei um teclado US internacional (sem a tecla da cedilha) e funcionou perfeitamente com a acentuação em português.

    Segundo a documentação, o sistema exige no mínimo 256MB de RAM (512 recomendados), placa de vídeo NVidia, ATI ou Intel i8xx ou i9xx, e placa de som AC97 ou compatível com Sound Blaster. Nos 3 equipamentos em que testei, o som, o vídeo e o suporte básico a periféricos funcionou sem soluços. O driver de vídeo com aceleração foi ativado automaticamente, e os efeitos 3D da interface (desktop "cubo", janelas flexíveis ao se movimentar, etc.) estavam disponíveis sem nenhuma configuração adicional.

    Usei impressoras laser conectadas via USB em 2 dos micros de teste, e ambas foram reconhecidas e configuradas automaticamente, após me solicitar confirmação. Imprimi algumas páginas de teste sem problemas, nem sustos.

    O software incluído

    O Mandriva Flash vem com o kernel 2.6.17 (mais uma série de drivers proprietários disponíveis em outros produtos da Mandriva, para vídeo, wireless e modems, entre outros), KDE 3.5.4, Firefox 1.5.0.6 (mais Flash e RealPlayer), OpenOffice.org 2.0.3. Apesar de incluir componentes proprietários no nível do software básico, o Mandriva Flash não traz consigo alguns aplicativos proprietários que vêm em outros produtos da Mandriva, como o LinDVD, JVM, Skype, Adobe Reader.

    Há uma boa seleção de softwares pré-instalados, suficiente para tarefas comuns como editar textos e planilhas, visualizar e retocar imagens, ouvir músicas nos formatos mais comuns (inclusive MP3), navegar na web e ler e-mails, entre outras.

    O Centro de Controle Mandriva é o mesmo disponível em outras edições da distribuição, e permite configurar os mais variados itens de hardware e software. Usei para algumas tarefas corriqueiras, como a seleção de uma rede sem fio ou a inclusão de um novo usuário, sem percalços.

    Organização do "disco"

    O pen drive de 2GB vem dividido em 2 partições, ambas FAT, de forma que podem ser vistas e manipuladas até mesmo em computadores com Windows - o que é parte dos objetivos do sistema. A partição "Share" tem 750MB e pode ser usada livremente para gravar e transportar arquivos, podendo ser lidos sem problemas também em micros que não estejam rodando o Mandriva Flash.

    A outra partição ocupa o restante dos 2GB do pen drive, e traz um arquivo contendo a distribuição como um todo (pouco mais de 700MB, comprimido, read-only) e um loopback de 400MB que contém as modificações do sistema e os diretórios dos usuários.

    Como a imagem do disco do sistema operacional é read-only, eventuais alterações, atualizações e instalação de novos pacotes ocupam o espaço limitado do loopback de 400MB, portanto cada adição ou atualização de software deve ser considerada com cautela. Ainda assim, as ferramentas de atualização e instalação de pacotes do Centro de Controle Mandriva funcionam sem problemas, incluindo o MandrivaUpdate - que dispõe de grande volume de atualizações para os pacotes do Mandriva Flash.

    Descrição do hardware

    Recebi o Mandriva Flash para testes em uma pequena embalagem de feltro azul, contendo o pen drive em si, um cordão para prendê-lo no pescoço, e um folheto com os termos de uso, suporte e garantia. A versão brasileira do produto tem 90 dias de garantia para o aparelho, 1 mês de permissão de uso do Mandriva Club (categoria prata) e 1 mês de suporte via web com escopo limitado (reconhecimento de hardware, processo de boot, uso de aplicativos, etc.)

    A versão brasileira do Mandriva Flash vem instalada em um pen drive da Dane-Elec, modelo zMate Pen 2GB, e acompanhada de uma medalhinha de alumínio, de 20 x 5mm, com a logomarca e o nome Mandriva gravados.

    Por ser baseada no pen drive zMate, a versão brasileira do Mandriva Flash tem uma desvantagem séria em relação ao modelo europeu (que também usa pen drives Dane-Elec, mas de outro modelo): trata-se de um pen drive um pouco mais volumoso, e assim pode tornar impossível usar a porta USB vizinha àquela em que estiver conectado. Isto aconteceu nos meus 3 micros de teste, e pode ser facilmente resolvido com um cabo extensor USB - ou usando outra porta USB, quando o micro tem em número suficiente. No caso do Thinkpad T60, que tem apenas 3, tive que desconectar o mouse externo quando fui testar o HD USB externo.

    Uso do sistema

    O Mandriva Flash busca ser o software de uma estação de trabalho básica portátil, e agregar alguns recursos de eye candy como as janelas flexíveis ou o desktop em cubo 3D. Testei o ambiente tendo em mente este uso específico, mesmo porque não seria simples transformá-lo em uma ferramenta de segurança, um ambiente de desenvolvimento ou uma estação multimídia.

    Acessei o correio eletrônico (via webmail e também com o kmail, incluso), enviei e recebi anexos, abri arquivos do Word e do Excel no OpenOffice em português, naveguei na Internet, visualizei e editei imagens que baixei da câmera digital, conversei com amigos usuários de ICQ, Jabber e MSN, assisti a vídeos no YouTube, tudo sem problemas nem dificuldades adicionais de configuração - o ambiente de trabalho básico está bem polido.

    Um detalhe que me chamou a atenção, por se tratar de uma demanda comum e aparentemente simples de resolver, é que devido à ausência da JVM, não foi possível acessar os serviços de home banking dos bancos a que tenho acesso, usando a configuração default do Mandriva Flash.

    No que diz respeito a multimídia, os resultados são parciais. O sistema vem com CODEC do formato MP3 pré-instalado e configurado, o que permite ouvir músicas neste formato de forma simples (não é necessário configurar nem ativar nada). Mas quando se trata de vídeos, a coisa muda de figura, e temos resultados bem parciais, devido à questão de formatos proprietários (e aparentemente não especificamente à questão das patentes de software, já que o MP3 está suportado).

    Veja os testes realizados, em ordem crescente de sucesso obtido:

    • Vídeo em formato WMV, "machine plier" - confecção norte-americana ensina como construir uma máquina de dobrar camisas perfeitamente, usando apenas uma caixa de papelão e fita adesiva. O Mandriva Flash só conseguiu reproduzir o áudio.
    • Vídeo em formato WMV, "harlem globetrotters" - Melhores momentos do time de basquete-arte. O Mandriva Flash só conseguiu reproduzir o áudio.
    • DVD comercial "X Files Season 4 disc 6": O Mandriva Flash reproduziu com sucesso as 2 trilhas iniciais (letreiros em espanhol e português alertando contra a exibição comercial), e não exibiu áudio nem vídeo das demais trilhas (menus, episódios).
    • Vídeo MPEG1+MP2 "Gotta have more cowbell" - Sketch do Saturday Night Live com Christopher Walken no papel de Bruce Dickinson, simulando uma sessão de gravação com o Blue Öyster Cult. Áudio e vídeo reproduzidos com sucesso, com presença persistente de matriz quadriculada de pontos em toda a tela, reduzindo a qualidade gráfica.
    • Vídeo XVID+MP3 "Lindsay Lohan as Hermione Granger" - sketch do Saturday Night Live em que Harry Potter tem dificuldades de se concentrar devido a 2 bons motivos que Hermione (representada por Lindsay Lohan, em 2004) trouxe na volta das férias de verão. Áudio e vídeo reproduzidos com sucesso, com presença persistente de matriz quadriculada de pontos em toda a tela, reduzindo a qualidade gráfica.

    Usei as configurações default dos aplicativos, mas no caso dos vídeos quadriculados tentei também com opções diferenciadas, sem sucesso.

    Conclusões

    Usar o pen drive como se fosse um filesystem comum, gravando os arquivos do sistema diretamente nele, não é uma solução otimizada. Mas gravar nele o sistema operacional como um grande blob que não pode ser alterado é um fator limitador para usuários avançados, reduzindo em muito a flexibilidade do sistema e também a própria possibilidade de atualizá-lo.

    Ainda assim, mesmo considerando a restrição acima, o sistema operacional gravado em um pen drive tem muito mais flexibilidade do que o seu substituto mais próximo, que é o Live CD.

    Considerando exclusivamente as funcionalidades para as quais foi planejado, o Mandriva Flash provê uma estação de trabalho suficiente para muitos usos, com aplicativos de escritório, navegador, correio eletrônico, IM, reprodutor de áudio e mais.

    As dificuldades para inicializar o sistema em alguns ambientes são um ponto fraco, mas cuja solução é prevista, conhecida e mencionada na documentação. Não incluir o software necessário para permitir o uso da maioria dos home bankings, entretanto, acaba sendo uma restrição muito mais séria ao usuário tido como alvo da oferta - inclusive ao contrastar com a presença de diversos outros softwares proprietários (Flash, RealPlayer, drivers variados) no produto.

    Para os que buscam a possibilidade de um ambiente de trabalho que pode ser levado de micro em micro, vale a pena verificar o Mandriva Flash. E para quem gosta de exibir as vantagens do ambiente gráfico 3D do Linux e deixar impressionados os colegas, esta sem dúvida é uma das melhores opções em termos de efeito!

    Referência:

    Para mais detalhes sobre o Mandriva Flash, documentação, preços e outros, visite o site do produto.